A Escola Primária de Lagoa Fundeira (Concelho de Vila de Rei), datada de 1960, está hoje consagrada ao papel de capela e casa mortuária servindo as populações de Lagoa e Monte Novo.
Anteriormente à construção deste edifício datado de 1960, existiu nesta aldeia uma outra casa-escola (particular) cujo atual proprietário, em tempos, fez da antiga sala de aula um palheiro para a sua mula: “…aqui era onde ficava a mula, pu-la aqui para ver se ela aprendia!” (disse-nos o próprio, rindo, em 10 de Setembro de 2020).
Em conversa com a Sr.ª Maria Amélia Lourenço, nascida em 1947 e criada na Lagoa Fundeira, ficámos a saber que frequentou esta casa-escola desde os seus 7 anos tendo aí concluído a 3ª classe com 13 anos. Recordando esses tempos, diz-nos com algum pesar: “…eu queria estudar…mas a minha mãe não me dispensava para eu vir à escola…eu ia ter com a professora ao fim do dia de trabalho e ela dava-me a lição para eu aprender à noite em casa, sozinha, à luz de um lampião…”. Diz-nos ainda: “…fiz a 4ª classe já muito tarde, tinha 20 anos…fui fazer exame a Vila de Rei com os garotos mais novos desse ano…sentia-me uma burra no meio deles, por ser mais velha…mas agora pergunto eu: era eu que era a burra?…pois se aprendi sozinha, à noite, com umas ajudas da professora, e depois de um dia inteiro de trabalho no campo, sem apoio de ninguém, a fazer kilómetros para ir à escola à Zaboeira, à Fundada ou ao Abrunheiro Grande para aprender alguma coisa, só para poder ir ao exame!…e eu é que era a burra?…ai se isso fosse agora neste tempo…”. Depois de casada e já com filhos, ainda pediu ao marido para ir estudar para ser enfermeira, mas ele disse-lhe que já não valia a pena, e que o melhor que ela tinha a fazer era criar os filhos, até porque sustento não lhes ia faltar. “Tive pena…tive muita pena…mas era assim naquele tempo…” (testemunho oral em 10 de Setembro de 2020).