Passagem para a 2ª classe (poema)

(…)

– Que métodos é que a professora…ou, lembra-se, como é que ela ensinava? O que é que ela fazia para dar apoio? Se é que o fazia aos alunos que tinham necessidades, ou que não conseguiam aprender…

– Isso não me lembro. 

– Não se lembra se ela tinha algum…sistema, que a Ilda se recorde…um hábito qualquer ou…

– Não. Só me lembro que ela tinha o hábito de bater. Isso é o que me lembro. 

– O hábito de bater… 

– De bater com a cana, ou com a régua. Quando as coisas não corriam lá ao jeito dela… 

– Lembra-se de algum livro em particular ou alguma história…ou um personagem? Não tem memória?

– Histórias…lembro-me muito. Portanto, quando eu fiz a passagem da 1ª para a 2ª fui recitar um poema, tipo um poema…lá no salão paroquial…que ela ensinou a várias, mas essa nunca mais me esqueceu. Nós íamos ao palco, cada um por sua vez, e o meu era este: “Sinto-me feliz e contente, tão ditosa que nem sei. Pois na luta fui valente, e até pasmei muita gente, da coragem que mostrei. Fui hábil, nunca errei, tive calma e fui prudente. Mas a vitória foi tal, que embora isso confunda, é notória em Portugal. Já passei para a 2ª!…” (risos). Nunca mais me esqueceu este poema…

(…)

Excerto de entrevista a Ilda Cardoso da Silva Verissimo, 73 anos (em 3 de Dezembro 2019, Vila de Rei)

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