A Escola Primária de Figueiredo (Concelho de Sertã) alberga hoje o CIAR – Centro de Interpretação de Arte Rupestre. Á semelhança de muitas outras povoações, esta escola primária datada de 1969 teve uma antepassada, uma ‘escola-casa’ (particular), da qual poucos hoje se lembram. A escola ‘velha’, situada na extremidade mais alta da aldeia, e a escola ‘nova’ situada na extremidade mais baixa. A aldeia de Figueiredo foi recentemente assolada por um incêndio que deixou marcas visíveis na paisagem e na vida dos residentes locais. Um dos edifícios que sucumbiu às chamas foi precisamente a antiga ‘casa-escola’ desta aldeia, da qual pouco restou, a não ser a memória daqueles que ainda se lembram de lá terem aprendido a ler, a escrever e a contar.
O Sr. Manuel Lopes Castanheira, responsável pela chave da escola primária do CIAR, guiou-nos nesta visita ao passado e presente destas duas escolas da aldeia de Figueiredo (16 de Setembro 2020). Embora o Sr. Manuel não tenha sido aluno em nenhuma destas escolas (pois é oriundo do Troviscal, onde frequentou a escola primária), a sua esposa Maria do Carmo Castanheira, nascida e criada em Figueiredo, frequentou a escola primária naquele edifício que o incêndio da noite de 25 de Julho de 2020 consumiu. Em conversa, o Sr. Manuel falou-nos daquela noite de aflição: “…foi terrível, nem imagina…durante o dia o fogo andou do lado de lá da serra, mas os bombeiros andaram por aí todo o dia, p’ra cima e p’ra baixo, a ver se o vento virava para cá. De repente, desapareceram todos. Devem ter ido acudir o outro lado da serra. Já era noite quando começamos a ver o topo da serra a arder, e o fogo a galgar por aqui abaixo…e os bombeiros, qu’é-deles? Nem um. Vimo-nos aqui sozinhos no meio deste inferno, sem uma bomba sequer p’ra puxar água, porque a electricidade foi-nos cortada…foi o salve-se quem puder, como puder…nem há explicação…”
Numa notícia publicada no Diário Digital de Castelo Branco (2016-04-15), podia ler-se:
“O antigo edifício da Escola Primária de Figueiredo, no concelho da Sertã, agora requalificado, tornou-se no Centro de Interpretação de Arte Rupestre (CIAR). Esta infraestrutura tem assim a missão de divulgar, valorizar, salvaguardar as estações de Arte Rupestre da Fechadura e da Lageira, que vão assim fazer com que turistas e amantes desta área façam uma viagem atrás do tempo. (…) O presidente da Câmara Municipal (…) salientou a importância do investimento do Município no CIAR, uma decisão tomada após a classificação ‘Herity’ que, desde logo, despertou uma especial atenção por parte da edilidade.”
Nas palavras do autarca, José Farinha Nunes:
“Achámos que fazia sentido um Centro de Interpretação de Arte Rupestre neste local e protegermos o espaço que queremos preservar sem intervencionar, continuando o mais natural possível”. Todavia, o mesmo garantiu que “ainda há muito trabalho pela frente há muita exploração a fazer, há um território rico em património, faz com que o investimento nesta área da arqueologia e arte rupestre continue a ser um investimento que a autarquia quer fazer”. Na criação do CIAR, o autarca salientou ainda o trabalho de um arqueólogo do Instituto Politécnico de Tomar.
No mesmo artigo de jornal, Patrícia Calado (a autora da reportagem), escrevia:
“A Estação de Arte Rupestre da Fechadura, situada na Serra do Figueiredo, é constituída por três lajes com gravuras que apresentam uma grande variedade de representações. No CIAR é ainda possível obter informações acerca da Estação de Arte Rupestre da Lageira, situada na Serra do Cabeço Rainho, com gravuras que remontam entre o período do Neolítico Final e Idade do Bronze. O CIAR contempla ainda um espaço dedicado à unidade de alojamento local, onde os visitantes vão ter a oportunidade de pernoitar e usufruir as potencialidades do concelho.”
A respeito dessa estrutura de alojamento local, agora instalada numa das salas de aula da escola primária, o Sr. Presidente da Câmara referiu:
“Garantidamente que será visitado por muitos turistas, por isso, temos também um alojamento, onde podem passar um fim-de-semana muito bom, tem aqui ar puro e todas as condições. Os próprios produtores agrícolas podem vender os seus produtos, que são de qualidade”.
Outra notícia, publicada no canal MedioTejo.net (2016-04-20), dava conta desta e de uma outra escola primária da Sertã que, recentemente, haviam dado lugar a “espaços de preservação da cultura e artes”.
.
Bibliografia relacionada: